Na Mídia

Tilápia da Bahia para a França

Pequenos produtores do Sul de estado exportam filé Saint Pierre e aumentam renda.

25 de novembro de 2005

Pequenos produtores do Sul de estado exportam filé Saint Pierre e aumentam renda.

Moradores das cidade de Cairu, Nilo Peçanha, Igrapiuna e Ituberá na Costa do Dendê, na região Sul da Bahia deixaram de ser pescadores e passaram a produzir a tilápia estuarina, conhecida nos supermercados filé de Saint Pierre, que tem garantido a renda e a permanência deles na região. Eles deixaram de ser extrativistas, se tornaram aqüicultores e parte de sua produção já é exportada para a França.

A pesca extrativista reduziu a oferta de peixes e colocou em risco a sobrevivência das famílias de pescadores, cuja renda mensal era em média de R$ 220,00. Orlando da Tilápia, um pescador de 37 anos, confirma que na região não há mais peixe. “O extrativismo foi predatório, usavam redes, bombas, e isso reduziu os peixes, diz ele. Não adianta mais pegar o barco e sair para pescar. O resultado não paga o combustível”.

Ele afirma que o projeto da cooperativa veio para mudar. “Não preciso mais pescar, passei a ser produtor da cooperativa e minha renda hoje é em torno de R$ 600,00 por mês”, disse o cooperado.

O projeto ao qual Orlando da Tilápia se refere é a Cadeia Produtiva da Aqüicultura, liderada pela Cooperativa Mista de Marisqueiros, Pescadores e Aqüicultures do Baixo Sul da Bahia (Coopemar). O projeto faz parte do programa de Desenvolvimento Sustentado do Baixo Sul da Bahia (DIS Baixo Sul) iniciativa da Fundação Odebrecht, que completa 40 anos no mês que vem. Ele envolve 48 cooperados e segundo Bruno Falcão, líder da cadeia produtiva, 16 famílias trabalham nos módulos e até o final do ano serão 22 famílias, cada uma com 10 tanques.

A aquicultura abrange produtores das comunidades de Torrinhas, Canavieiras, Tapuias entre outras, e atende em torno de 800 pessoas.

O projeto gera trabalho e renda para as famílias estuarinas, tornando-as aptas para produzir e beneficiar o Saint Pierre, espécie de tilápia criada em estuário, e ostras de alto valor agregado. Implantada em 2004, a Coopemar produziu quatro toneladas de peixe na primeira despesca de cada módulo produtivo. Hoje a produção é de 15 toneladas a cada ciclo de quatro meses, o que elevou a renda dos pescadores para R$ 600,00 reais por mês.

Orlando da Tilápia diz que a filosofia da fundação é ajudar os pescadores. “Eles não querem tirar nada da gente. Antes eu pescava para viver. Hoje a gente recebe a cada quatro meses e precisei me adaptar à nova realidade. O pessoal da fundação me ensinou a planejar a produção o que me ajuda até a administrar melhor minha casa. Antes as pessoas incentivavam os filhos a ir em busca de um futuro melhor. Hoje ninguém mais quer sair daqui”, afirma.

O biólogo marinho Roque Fraga, responsável pelo programa explica que a criação da tilápia Saint Pierre começa com o fornecimento de alevinos pela Aquavale. Na cooperativa passam por um processo da aclimatação (salinização) à água salobra e por tanques-berçários antes de serem distribuídos aos cooperados para engorda em tanques-rede. Ele explica que a tilápia é o boi da água, pois tem 100% de aproveitamento. “Hoje aproveitamos apenas 30% do peixe, o resto é descartado. Quando tiver a unidade de beneficiamento o lucro dos cooperados será maior”, afirma Fraga.

Exportação

Hoje o beneficiamento para a produzir o filé é realizado em Ilhéus pela P&C, indústria parceira da Coopemar. “Os cooperados acompanham todo o processo até o peixe ser embalado e colocado no caminhão frigorífico”, afirma Fraga, ao ressaltar que há uma consciência muito grande em garantir a qualidade total ao produto.

A tilápia tem um ciclo de 20 semanas e quando atinge entre 800 gramas a 900 gramas fornece dois filés de 120 gr cada. As 15 toneladas de peixe são transformadas em 5 toneladas de filé que são comercializadas pela rede Walt-Mart e pela Ebal/Cesta do Povo. Parte da produção já está sendo exportada. Mensalmente duas toneladas de filé são enviadas à cadeia francesa de supermercados Aucham, o que resulta num faturamento de R$ 8,8 mil para a cooperativa.

Como a tilápia é um animal exótico, os produtores precisam ter muito cuidado no seu manejo para que ele não agrida o meio-ambiente. Praticamente todos os peixes produzidos pela cooperativa são machos revertidos sexualmente à base de ração com testosterona.

“Além de se alimentarem melhor, isso elimina o problema da reprodução caso caiam no meio ambiente”, diz Roque, que explica que quando acontece alguma fuga os peixes procuram a água doce, o que facilita a captura.

De acordo com o biólogo, a tilápia é fácil de ser cultivada. No futuro a cooperativa fará testes com peixes nativos, como a tainha e peixes vermelhos. Para ampliar a renda dos produtores Roque introduziu a cultura de ostras em cativeiro. “A venda das ostras é realizada pelos próprios pescadores aos turistas que visitam a região”, diz ele. Ele salienta que a ração que alimenta os peixes é composta de proteína de frutos do mar e de peixes.

Com o fim da pesca predatória o biólogo e os cooperados acreditam que aos poucos a fauna se recomponha e desta forma atinja outro objetivo da Fundação Odebrecht que é a preservação do meio ambiente. “Queremos mostrar que é possível o homem permanecer em sua comunidade, melhorar sua educação e sua cultura, gerar renda e oferecer qualidade de vida a seus familiares sem destruir o meio ambiente. Damos um exemplo prático de que o desenvolvimento sustentado é uma prática possível”, disse o biólogo Roque Fraga.

Trabalho familiar

O líder da cadeia produtiva da aqüicultura, Bruno Falcão, explica que toda a família dos cooperados participa do projeto da Tilápia, inclusive as crianças. A educação infantil pelo trabalho é diferente a exploração do trabalho infantil, diz ele. “Aqui a criança acompanha os pais no trabalho, aprendem a cuidar da criação. Entender o trabalho e dividir a responsabilidade com os pais faz parte da educação. Ele complementa que as crianças recebem a educação formal em Cairu e contam com o complemento educacional da Casa Familiar.

Bruno diz que o único problema da região é a falta de transporte para os moradores que pretendam fazer curso superior. Ele cita o exemplo de Fábio, líder da comunidade que possui o segundo grau completo, pretende ser engenheiro de pesca e não estuda por falta de transporte.

“A fundação pleiteia junto ao governo do estado transporte para que os interessados possam estudar à noite e voltar para casa sem precisar abandonar a comunidade. Bolsa de estudos não é problema. O problema é chegar na escola e voltar para casa no mesmo dia”, afirma Bruno.

Fonte: Gazeta Mercantil, 24 de Novembro de 2005
Repórter: Luiz Voltolini

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