Edição 155 – Tempos mais justos, dias mais prósperos
No Baixo Sul da Bahia, cooperativas garantem maior retorno de renda para as famílias de pequenos agricultores
1 de agosto de 2011
No Baixo Sul da Bahia, cooperativas garantem maior retorno de renda para as famílias de pequenos agricultores
1 de agosto de 2011
Texto: Gabriela Vasconcellos
Fotos: Beg Figueiredo
Na mesma terra em que viveu seu pai e avô, o agricultor Balbino dos Santos, 55 anos, criou raízes com a família. O desejo de permanecer no campo sempre o acompanhou e tem crescido com as mudanças em sua comunidade. O plantio de mandioca, abacaxi, banana-da-terra e aipim, realizado na sua propriedade de 8 hectares, hoje tem destino certo: a Cooperativa dos Produtores Rurais de Presidente Tancredo Neves (Coopatan), localizada no Baixo Sul da Bahia. Não foi sempre assim. “A vida era difícil. O preço era determinado pelo comprador. Isso quando tínhamos para quem vender”, conta Balbino, morador de Riachão da Serra, município de Valença (BA).
Ele, sua esposa e seus filhos fazem parte da Aliança Cooperativa da Mandioca. Nesse modelo, os agricultores, organizados em cooperativa, utilizam os serviços da indústria beneficiadora que concebe o produto com maior valor agregado e do comerciante, que, com espírito de parceiro solidário, disponibiliza suas gôndolas. Cria-se um vínculo direto com o consumidor consciente, garantindo que o maior retorno de renda seja sempre das unidades-família. A contribuição de todos os protagonistas fortalece o jogo do ganha-ganha. Nesse contexto, a educação, parte integrante e essencial para formação dos cooperados do amanhã, é disponibilizada pelas Casas Familiares Rurais.
O modelo inovador de Aliança Cooperativa está contribuindo para mudar a realidade do Baixo Sul da Bahia – área formada por 11 municípios, onde vivem mais de 285 mil pessoas. O conceito foi levado para a região pela Fundação Odebrecht, que apoia o Programa de Desenvolvimento Integrado e Sustentável do Mosaico de Áreas de Proteção Ambiental do Baixo Sul da Bahia (PDIS). Essa tecnologia social foi criada para promover a inclusão produtiva, a erradicação da pobreza e a redução das desigualdades.
“Entre 1998 e 1999, os agricultores passavam por uma crise da produção de mandioca em Presidente Tancredo Neves e entorno. Naquela época, o quilo era vendido entre três e cinco centavos. Não era um cultivo rentável e que proporcionasse renda justa”, relembra Juscelino Macedo, atual Líder da Aliança Cooperativa da Mandioca e um dos que ajudaram a criar a Coopatan há 11 anos.
Diante desse cenário, a comunidade organizou-se, eliminou a figura do atravessador e passou a comercializar com o apoio de grandes redes de varejo. O preço da mandioca quadriplicou. Balbino viveu essa experiência. “Agora temos destino certo para nossa produção. Não perdemos mais o cultivo e não existem desvantagens”, ele afirma. Com a cooperativa, tornou-se possível também o acesso a técnicas que garantiram maior qualidade e produtividade: a média passou de 9 t/ha para 21 t/ha de mandioca, com picos de 68 t/ha em algumas propriedades.
Inserida na Aliança Cooperativa da Mandioca que engloba uma fábrica de farinha, a Casa Familiar Rural de Presidente Tancredo Neves (CFR-PTN), os parceiros sociais e consumidores conscientes , a Coopatan está transformando a vida de 191 famílias. Recentemente, passou a comercializar hortifrútis, o que contribuiu para ampliar ainda mais a renda dos produtores.
“Estamos contribuindo para a manutenção das pessoas no campo, com qualidade de vida. Mesmo com uma propriedade pequena, elas podem ter renda compatível com suas necessidades e tornarem-se protagonistas do seu desenvolvimento”, diz Fábio Sento Sé, Gerente de Responsabilidade Social do GBarbosa (quarta maior rede de supermercados do Brasil) e Coordenador do Instituto GBarbosa. Além de comercializar os produtos, esse parceiro social selecionou a farinha de mandioca da Coopatan para implantar sua marca própria. Walmart, Pão de Açúcar e Empresa Baiana de Alimentos (Ebal) são também parceiros da cooperativa.
Sinergia
Em consonância com a Coopatan, a CFR-PTN busca oferecer educação profissional de qualidade a jovens, estimulando a permanência no campo e na agricultura familiar. A metodologia utilizada é a da Pedagogia da Alternância, que possibilita aos educandos passarem uma semana em regime de internato, com aulas na sala e no campo, e duas semanas em suas propriedades, aplicando os novos conhecimentos. Os beneficiados pela instituição que concluem os três anos de curso recebem diploma de Ensino Médio integrado à habilitação técnica em Agropecuária.
Integrantes da cooperativa participam, uma vez por semana, das aulas oferecidas pela Casa Familiar, para motivar os educandos a se tornarem associados. Atualmente, os quatro técnicos da Coopatan são ex-alunos da CFR-PTN, e 13 jovens já aderiram à cooperativa.
Os filhos de Balbino estão inseridos nessa realidade. Abinael dos Santos, 17 anos, formou-se na Casa em 2010 e está atuando na área financeira dessa unidade de ensino. “É mais um aprendizado a que tenho acesso. Quero adquirir uma propriedade maior e torná-la sustentável”, destaca o jovem, que concilia a experiência com o trabalho no campo.
O desejo de migrar para os centros urbanos um dia passou pela cabeça do caçula Ubiratam dos Santos, 15 anos. O exemplo do irmão o fez não só desistir da ideia, como se apaixonar pela agricultura. Ele seguiu os passos de Abinael e entrou para a CFR-PTN. “Daqui a 10 anos estarei na minha propriedade, com alta produção, associado à Coopatan”, diz Ubiratam.
Abinael e Ubiratam levam para a propriedade da família todo conhecimento adquirido nas aulas práticas e teóricas oferecidas pela CFR-PTN. Balbino salienta que, com as novas técnicas, a produtividade aumentou. “Quando eles chegam, falam sobre o que estudaram na semana, e vamos à roça ver o que está errado. Hoje vemos a diferença”, conta o pai. Antonia dos Santos, mãe dos jovens e esposa de Balbino, quer ver os filhos se realizarem. “Minha paz está em ter minha família no campo.”
A caminho da Sustentabilidade
A família de Balbino caminha agora para um futuro já conhecido pelo agricultor Genival de Melo, 39 anos. Também associado da Coopatan, esse produtor rural comemora a conquista de grandes resultados. “Antes, não tinha casa para morar. Casei e fui viver na residência da minha sogra. Hoje, conseguimos construir nossa moradia. Já trocamos de carro, compramos caminhão e mais um pedacinho de terra”, destaca o morador da comunidade de Ouro Preto, localizada em Presidente Tancredo Neves. Da mesma forma que Balbino, Genival integra a cooperativa desde sua fundação. “Se alguém saiu da região naquele tempo, volta e não reconhece mais o local. Não dava para sobreviver da roça. Pensei em ir embora várias vezes, mas acreditei na agricultura”, conta.
Outras cinco Alianças Cooperativas estão contribuindo para transformar o Baixo Sul: Piaçava, Palmito, Aquicultura, Construção Civil e Amido. Juntas, contribuem para o desenvolvimento sustentável de mais de mil famílias. “Tenho orgulho de dizer que quem vive na roça hoje vive bem”, enfatiza Genival.
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