Edição 157 – Cada um em seu papel essencial
No assentamento Margarida Alves, em Ituberá (BA), famílias de pequenos agricultores se unem e se capacitam para o desenvolvimento da comunidade
30 de novembro de 2011
No assentamento Margarida Alves, em Ituberá (BA), famílias de pequenos agricultores se unem e se capacitam para o desenvolvimento da comunidade
30 de novembro de 2011
texto: Gabriela Vasconcellos
fotos: Márcio Lima
A margarida é uma flor curiosa. Ao apreciá-la de perto, percebe-se que, na verdade, ela é formada por dois tipos de flores. Não é por acaso que as pétalas brancas envolvem o miolo amarelo. Com funções distintas, essas partes integram um todo preparado para desempenhar diferentes tarefas essenciais à sua sobrevivência. É assim também na comunidade que leva seu nome. O assentamento Margarida Alves, localizado no município de Ituberá (a 280 km de Salvador), surgiu da ocupação do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, em 1998. Desde então, as famílias se organizaram, dividiram as propriedades e se uniram pelo desenvolvimento da comunidade.
Antonio Nascimento Santos, 64 anos, chegou à região em 1996, ao lado de sua esposa e dos filhos, em busca de trabalho. “Não tinha onde fazer meus cultivos, aqui foi onde conseguimos. Naquela época, minha maior vontade era ter um pedaço de terra”, relembra. Com a chegada da Cooperativa dos Produtores de Palmito do Baixo Sul da Bahia (Coopalm) ao assentamento, em 2009, o agricultor encontrou uma oportunidade de crescimento. “Em todos esses anos, o que mais nos marcou foi a vinda da Coopalm. Somos parceiros. Passamos a ter apoio técnico, e a nossa produtividade cresceu”, ele relata.
Com a plantação de palmito de pupunha, Antonio é só esperança. Em até dois anos, colherá, mensalmente, cerca de 750 hastes, o que lhe renderá R$ 1.100 por mês, somente com essa cultura. “Quero produzir ainda mais, ampliar minha propriedade”, diz o agricultor, que às 5 horas da manhã já está pronto para ir ao campo trabalhar. “Isso tudo é para garantir o dinheirinho do fim do mês. É assim que cuido da minha família e da casinha em que moro. Agora planejamos comprar um carro”, revela.
Antonio não trabalha sozinho. Com o filho caçula, Antonio Nascimento Santos Filho, o único dos três que permaneceu no assentamento, não divide apenas o nome: compartilha também o amor pela terra. “Agricultura é a minha vida. É o meu negócio”, afirma Antonio Filho, 24 anos, educando da Casa Familiar Rural de Igrapiúna (CFR-I) unidade de ensino que, assim como a Coopalm, faz parte do Programa de Desenvolvimento Integrado e Sustentável do Mosaico de Áreas de Proteção Ambiental do Baixo Sul da Bahia (PDIS), apoiado pela Fundação Odebrecht.
Antonio Filho está concluindo a formação de três anos. Durante esse período, teve acesso à capacitação em muitas áreas, como administração rural, solos, culturas perenes e beneficiamento de produtos de origens animal e vegetal, além de noções sobre cooperativismo, educação ambiental e protagonismo juvenil. As novas técnicas aprendidas, aliadas à assistência da Coopalm, têm contribuído para ampliar a produtividade da família.
“É possível viver bem na zona rural e se desenvolver sem a necessidade de migrar para os grandes centros em busca de um sonho que não existe”, assegura o novo empresário rural, que em 2011 associou-se à Coopalm. “Do futuro, só tenho a certeza de que estarei envolvido com agricultura”, garante. Seu pai aposta nesse caminho: “Fico muito feliz em ter meu filho trabalhando na terra. É do campo que a gente consegue tudo”.
Em 2011, mais de 10 mil hastes colhidas
Atualmente, 18 das 25 famílias que moram em Margarida Alves são associadas à cooperativa. Somente em 2011, mais de 10 mil hastes de palmito foram colhidas, o que tem gerado renda média superior a R$ 750 aos agricultores. “Apostamos na cooperativa porque vimos que era um projeto que dava certo”, garante Antonio Filho.
Além da Coopalm e da CFR-I, outras instituições ligadas ao PDIS estão interagindo com o assentamento. A Organização de Conservação de Terras (OCT), por exemplo, tem apoiado a comunidade a conquistar a regularização ambiental fornecida pelo Governo estadual. A Associação Guardiã da Área de Proteção Ambiental do Pratigi (Agir) facilita a regulamentação documental e contábil, e a Cooperativa dos Aquicultores de Águas Continentais (Coopecon) já iniciou contato com a comunidade para implantar o cultivo de peixes na região, o que gerará mais uma oportunidade de trabalho e renda.
Para os moradores do assentamento, isso é apenas o começo. “Já sentimos a diferença. Nossa comunidade se desenvolveu, temos mais conforto e orientação”, diz Ananias de Sena, 73 anos, um dos mais antigos habitantes de Margarida Alves e também associado à Coopalm. “Nossa renda só tem a aumentar.”
A mesma determinação de Ananias está presente em cada família que se inspira na força e na coragem daquela que batizou a comunidade. Margarida Maria Alves, falecida em 1983, foi uma lutadora da terra, pioneira na defesa dos direitos dos trabalhadores rurais no Brasil. “Ela não era daqui, mas sua batalha nós conhecemos”, diz Ananias. Pelas histórias que ele conta, Margarida não tinha relação com a fragilidade e a delicadeza da flor. Sua bravura e dedicação ao grupo que defendia lembravam à do miolo amarelo, que sustenta as pétalas brancas.
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