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Artigo: Educar para a vida

Confira texto de Cristiane Nascimento, responsável por Sustentabilidade na Fundação Odebrecht, sobre os desafios da educação

19 de novembro de 2018

Cristiane Nascimento*

Ao falar sobre educação, um enorme desafio está e talvez sempre esteve posto diante de todos nós.
 
A Constituição Federal, no Art. 205, estabelece que a educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. 
 
Sabemos, no entanto, que há um grande hiato entre o que está na lei e o que ocorre na sala de aula e nos espaços de aprendizagem em cada canto do nosso país, seja por questões orçamentárias, dificuldade na formação de professores, currículos pouco aderentes, arquitetura pouco atrativa das escolas, país com dimensões continentais etc.
 
Essa é uma pauta que demanda parcerias estratégicas, esforços conjuntos, diversos e inovadores. E é urgente cuidarmos dela, pois muitas fichas estão apostadas na educação para incentivar mudanças de comportamento que virão a gerar um futuro mais sustentável em termos de integridade ambiental, viabilidade econômica e de uma sociedade mais justa para as gerações presentes e futuras.
 
O papel da educação, se já era nobre e caro pelo poder da transformação que promove para o indivíduo, a sociedade e o país, parece ganhar ainda mais notoriedade, pois ao mesmo tempo que é visto como um dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS 4: assegurar a educação inclusiva e equitativa e de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todas e todos), é também o principal meio de atingimento dos outros 16 objetivos. 
 
Educação tem sido um dos grandes desafios do futuro
É pela via da educação que será possível a tomada de consciência cidadã e coletiva que nos despertará para percebermos os impactos culturais, sociais, ambientais e econômicos, atuais e futuros, em uma atuação local e global que geramos e à qual estamos sujeitos.
 
As nossas decisões irão determinar a forma como vamos lidar com os grandes desafios mundiais como acabar com a pobreza, promover a prosperidade e o bem-estar para todos, cuidar do meio ambiente e enfrentar as mudanças climáticas.
 
Estamos falando de algo muito maior que a qualificação profissional de um indivíduo. Estamos falando do futuro da humanidade.
 
Estamos preparados?
 
O documentário de Cacau Rhoden, “Nunca me Sonharam” nos lembra essa realidade de forma contundente. Faz-nos pensar o que representa a frase “ser sonhado” e que, para tal, é preciso estar num ambiente de fé. Ambiente em que as instituições de ensino consigam acessar a individualidade dos sujeitos, criar conexões e sentido. Onde a família não desista do jovem, ainda que muitas vezes esse papel não seja desempenhado pelos pais. E o próprio jovem construa sua trajetória, ao acreditar no seu potencial, e não desista de si mesmo.
 
Mas só isso não basta. Precisamos de referências exitosas e sabemos que muitas vão despontando aqui e ali como inspiradoras e passam a ser até objeto de estudo e pesquisa, a exemplo do que vem fazendo o jornalista Caio Dib, que já viajou mais de 58 cidades brasileiras atrás de boas práticas educacionais. E, de fato, referências positivas precisam ser contadas e compartilhadas em redes.
 
Uma das histórias contadas por Caio mostra como jovens da zona rural do Baixo Sul da Bahia, estudantes de Casas Familiares, estão sendo convidados a sonhar por meio de uma educação inclusiva, contextualizada com a realidade local e conectada com o mundo. Trago essa experiência pelo desafio da educação do campo, que potencializa todos os outros, e por conhecê-la muito de perto.
 
São centenas de jovens que estão aprendendo a conhecer , ao serem instigados a debater sobre as questões desafiadoras do mundo, permitindo que a escola seja um espaço sem fronteiras que reflita o que se passa para além dos muros; que estão aprendendo a ser, ao serem convidados a fazer o mergulho interno que revela potencialidades e o desenvolvimento integral; aprendendo a fazer, ao acessarem e experimentarem novos conhecimentos que permitem ampliar a visão técnica, empresarial e de sustentabilidade no meio rural; e, por fim, aprendendo a conviver, ao desenvolverem um olhar sobre o coletivo e o desejo de crescimento para si e para as comunidades em que estão inseridos, com respeito às diferenças e disseminação de uma cultura de paz. 
 
Há 30 anos, a Fundação Odebrecht escolheu a educação de jovens como sua missão, estimulando a formação para vida e pelo trabalho

O conceito de Paulo Freire, de que não existe ensino sem aprendizagem, materializa-se nessa experiência através da relação entre educador e educando. O aprendizado não para, ele está em todo lugar, para além de muros e salas. Os jovens ficam uma semana na escola, em regime integral por alternância, e duas na propriedade da família, aliando saberes tradicionais com tecnologias inovadoras e conhecimentos aplicados ao campo. Educadores, ao passo que ensinam, aprendem com seus alunos e suas realidades de vida, e o mesmo acontece com os alunos, que apreendem novos olhares.

 
E, assim, é possível dar voz e vez a esse jovem e ouvir sua subjetividade quando se trata de visão de mundo, de planos e futuro, de sonhos e esperança, de desafios e oportunidades, de ética e valores, de problemas e soluções.
 
Ao terem voz, e se perceberem como parte da solução, passam a ser grandes disseminadores dos conhecimentos construídos na escola, junto a suas famílias e comunidades. São protagonistas, agentes de mudança, e assumem o compromisso de gerar uma onda de conscientização em volta de si mesmos, pois sabem que precisam comprometer e implicar o outro na grande jornada do desenvolvimento sustentável.
 
Esses jovens vão deixando suas contribuições para o mundo, suas marcas, não importando se estão em pequenas comunidades da zona rural ou nas grandes metrópoles. é o protagonismo juvenil que fará toda diferença nesse caminho de transformação que não tem divisas, pois é planetário.
 
E por acreditar nisso como muita força, há 30 anos a Fundação Odebrecht redefiniu sua missão, passando a focar seus esforços na educação de jovens e, para tal, apoia as Casas Familiares, instituições de Ensino Médio integrado ao Técnico, na busca desse grandioso desafio. “Educar para a vida, pelo trabalho, para valores e superação de limites”, é o que nos move.

* Cristiane Nascimento, autora deste artigo, é psicóloga, especialista em desenvolvimento humano e responsável por Sustentabilidade na Fundação Odebrecht.

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