Edição 123 – Nada de desperdício
Fábrica de Farelo de Folha do DIS Baixo Sul vai permitir melhor aproveitamento da planta da mandioca.
1 de março de 2006
Fábrica de Farelo de Folha do DIS Baixo Sul vai permitir melhor aproveitamento da planta da mandioca.
1 de março de 2006
Texto: Vivian Barbosa
Fotos: Luciano Andrade e Eduardo Moody
Um sorriso no rosto e o convite para um cafezinho. É dessa forma que Seu Levi, 62 anos, recebe os visitantes em sua pequena propriedade no município de Presidente Tancredo Neves, Baixo Sul da Bahia. Considerado um cooperado modelo por sua dedicação e otimismo, Seu Levi integra a Coopatan – Cooperativa de Produtores Rurais de Presidente Tancredo Neves, que operacionaliza a Cadeia Produtiva da Mandioca na região. Ele revela que, depois que se associou à Cooperativa, a produtividade de sua terra só aumentou. “Tenho três hectares de plantação de mandioca e consigo até 25 t de raízes por hectare, quando antes tirava só 10 t. Eu trabalhava sem técnica e agora tenho acompanhamento e assistência completa.”
Seu Levi sustentou a mulher e seis filhos trabalhando toda a vida como agricultor. Da mandioca, aproveitava apenas a raiz para produzir a farinha. “Sempre desperdicei todo o resto da planta. Queimava ou simplesmente jogava fora folhas e galhos que não serviam para replantar”, relata.
“Nosso objetivo é mudar essa realidade”, diz Marcelo Abrantes, Responsável Técnico da Coopatan. A Fábrica de Farelo de Folha – construída em Presidente Tancredo Neves com recursos da Secretaria de Combate à Pobreza e às Desigualdades Sociais do Estado da Bahia (Secomp) – proporcionará um aproveitamento maior da planta de mandioca. Resultado de um investimento de R$ 510 mil, a primeira fábrica do país para produção em larga escala de farelo de folha de mandioca, um ingrediente para ração animal, já está em pré-operação e beneficiará mais de 300 famílias. “A tecnologia utilizada na fábrica é a mesma usada para secagem da erva-mate. Ainda estamos na fase de testes do equipamento e de sua adaptação ao trabalho com a folha de mandioca, que é pioneiro no Brasil”, explica Abrantes.
As famílias integrantes da Coopatan devem fornecer no primeiro ano de funcionamento da fábrica até 5.400 t de matéria verde, produzindo 1.080 t de farelo. Antônio Carlos Souza, líder em formação na Coopatan e responsável pelo negócio da Fábrica de Farelo de Folha, explica o processo: “As folhas são cortadas e passam por uma pré-secagem no próprio local da lavoura, ficando expostas ao sol durante 24 horas. Elas perdem até 30% de umidade. Na fábrica, as folhas são trituradas e transportadas até o secador para a secagem definitiva. Em seguida, passam por peneiras de classificação que as separam de acordo com sua densidade e textura”.
O produto final terá diferentes formatos e aplicações. Os farelos mais fibrosos serão destinados à ração de bois, vacas, carneiros e ovelhas. Os mais refinados servem para a alimentação de monogástricos, como frangos e peixes. Os farelos intermediários podem ser utilizados como ingredientes de ração de pseudo-ruminantes, como os eqüinos. “Temos uma novidade no mercado. Os produtores terão retorno financeiro mais rápido. Enquanto eles esperavam até um ano para colher a raiz, em apenas quatro meses já poderão fazer o primeiro corte da parte aérea da mandioca”, afirma Jorge Gavino, Líder da Cadeia Produtiva da Mandioca.
Experimentos estão sendo realizados no Campo Demonstrativo de Tecnologias para o Cultivo da Mandioca, em parceria com a Embrapa, com o objetivo de identificar as melhores tecnologias de adubação, espaçamento e correção do solo para a produção de folhas com valor protéico semelhante ao do farelo de algodão, de grande aceitação no mercado. “A fábrica de rações Primor é nosso parceiro e compromete-se a comprar toda a produção. Além disso, trabalhamos no desenvolvimento de uma ração 100% vegetal para peixes visando diminuir o custo da Cadeia Produtiva da Aqüicultura”, informa Jorge Gavino.
A redução dos custos com ração, que hoje correspondem a 82% dos gastos na criação de tilápias, é prevista por Bruno Falcão, Líder da Cadeia Produtiva da Aqüicultura. “Adquirir um produto com qualidade nutritiva e mais barato impactará na rentabilidade de nosso negócio”, afirma Bruno.
As Cadeias Produtivas da Mandioca e da Aqüicultura são projetos do DIS Baixo Sul – Programa de Desenvolvimento Integrado e Sustentável do Baixo Sul da Bahia, uma parceria entre o Governo do Estado da Bahia, a Associação dos Municípios do Baixo Sul (Amubs), o Instituto de Desenvolvimento Sustentável do Baixo Sul (Ides) e a Fundação Odebrecht.
Para aplicações futuras, espera-se aproveitar outras partes da planta da mandioca. A cepa e o caule, triturados e prensados, formam briquetes que podem ser utilizados como lenha. A manipueira (líquido resultante da prensagem da massa de raízes de mandioca) é empregada como insumo agrícola e ingrediente para ração. Agricultores como Seu Levi terão mais fontes de trabalho e geração de renda, melhorando suas vidas e trazendo benefícios para toda a comunidade.
Uso racional dos materiais de construção
Desperdício zero. Esta é a expectativa para o aproveitamento da planta de mandioca e também um princípio que esteve presente desde a construção da Fábrica de Farelo de Folha. A obra foi liderada pelo consultor francês Christophe Hoüel e toda a tecnologia empregada buscou tornar possível a utilização racional dos materiais de construção.
Concluída em dois meses e meio, antes do prazo, a obra foi realizada dentro do custo previsto. Segundo Hoüel, a modulação das paredes em blocos de concreto é uma premissa para que se alcance uma economia de argamassa de até 90% em relação ao bloco tradicional de cerâmica.
Os operários que trabalhavam na construção estavam desempregados e foram selecionados com o apoio da prefeitura do município. Eles tiveram a oportunidade de aprender práticas de combate ao desperdício e aumento da produtividade. “Foi uma experiência muito interessante. Hoje, todos os 12 operários estão trabalhando em obras da região”, diz Christophe.
“Todos devem dar sua contribuição”
“Para que o mundo possa avançar e todas as pessoas tenham um espaço digno de vida, não podemos atribuir responsabilidades apenas a um setor da sociedade. Todos os setores e todos os cidadãos devem dar sua contribuição”, afirma o Padre Clodoveo Piazza, Secretário de Combate à Pobreza e às Desigualdades Sociais (Secomp) do Governo da Bahia.
A construção da Fábrica de Farelo de Folha foi financiada pela Secomp, com recursos do Programa Reciclar para Crescer. “Temos um alto índice de desperdício de matérias-primas que teriam grandes possibilidades de reutilização. Reduzir esse desperdício é o que busca o Programa Reciclar para Crescer”, destaca o Padre Piazza.
Ele ressalta a importância dos investimentos realizados no meio rural. “Essas pessoas têm uma grande capacidade de trabalho e vontade de ficar onde nasceram, onde vivem e criam seus filhos, onde têm uma história e uma cultura.” Sobre o papel das parcerias, Padre Piazza salienta: “A Secomp nasceu como uma secretaria sistêmica e coordenadora dos programas de combate à pobreza. Agimos não apenas firmando parcerias, mas provocando sinergias. São essas parcerias e sinergias que multiplicam e potencializam grande parte de nossos trabalhos”.
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