Edição 132 – Elo de cidadania
Há 10 anos, o Instituto de Desenvolvimento Sustentável do Baixo Sul da Bahia (Ides) articula parcerias para o desenvolvimento da região.
1 de setembro de 2007
Há 10 anos, o Instituto de Desenvolvimento Sustentável do Baixo Sul da Bahia (Ides) articula parcerias para o desenvolvimento da região.
1 de setembro de 2007
Texto: Vivian Barbosa
Fotos: Almir Bindilatti
Ituberá, quinta-feira, 8h da noite. Depois de pedalar 2 km, Jonatas Santos finalmente estaciona sua bicicleta na entrada do Instituto de Desenvolvimento Sustentável do Baixo Sul da Bahia – Ides. A noite agradável anuncia mais uma sessão da Quinta do Cinema. O filme é Eu Tu Eles. Jonatas tem 16 anos e nunca fora ao cinema. Aos 13, parou de estudar, na 5ª série. Ele conta que, se não fosse o trabalho, voltaria à escola. Seus amigos o convidaram para aquela sessão. Eram visíveis sua animação e ansiedade.
Ao entrar no salão, com suas muitas cadeiras e uma grande tela, Jonatas começou a observar as paredes. Painéis ilustravam as ações desenvolvidas no Baixo Sul da Bahia com o apoio do Ides. Cadeias Produtivas, Casas Familiares, iniciativas para promoção da cidadania e conservação ambiental. Ele nunca tinha entrado na sede do Ides e aquele primeiro contato lhe trouxe aprendizado. “O cinema mais próximo fica em Valença. São uns 45 km daqui. Esse projeto está trazendo cultura para a nossa cidade”, diz Jonatas.
Com o título de Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip), o Ides comemorou 10 anos de criação em 23 de agosto. Fruto de uma iniciativa de fundações, organizações não-governamentais e empresas locais, nasceu com o nome de Instituto de Desenvolvimento Sustentável da Bacia do Rio Juliana e com o objetivo de contribuir para a sustentabilidade ambiental daquela bacia.
A aproximação com a Fundação Odebrecht deu-se em 1999, quando o Ides passou a fazer parte do Programa Aliança com o Adolescente, junto com o Instituto Ayrton Senna, a Fundação Kellogg e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Desde então, o Ides é um grande parceiro da Fundação Odebrecht, atualmente coordenando e integrando as ações do Programa de Desenvolvimento Integrado e Sustentável do Baixo Sul da Bahia DIS Baixo Sul, com o apoio do Governo do Estado da Bahia e da Associação de Municípios do Baixo Sul (Amubs), a qual também comemorou, em agosto, seus 10 anos de atuação.
Com a experiência adquirida ao longo dos anos, o Ides atua como um centro catalisador e difusor de conhecimentos, tecnologias, informações e cultura no Baixo Sul da Bahia, contribuindo para a articulação entre a sociedade civil, o empresariado e o poder público. O sonho é uma aproximação ainda maior com as comunidades da região, mesmo aquelas não beneficiadas diretamente pelo DIS Baixo Sul. Com essa proposta, surgiram iniciativas como o Ides Convida, encontros mensais nos quais são oferecidas palestras sobre temas de interesse local; o jornal comunitário Diga! Baixo Sul, que publica matérias produzidas por jovens da região; e a Quinta do Cinema, que exibe, de forma gratuita, filmes nacionais e internacionais (às quintas-feiras) e infantis (aos sábados).
“Essa iniciativa busca resgatar uma cultura que existia em Ituberá, na década de 50, quando havia um cinema na cidade. A idéia agora é trabalhar a educação de jovens pela arte”, explica Josenildo Normandia, Secretário de Cultura de Ituberá.
Nas noites de quinta-feira, o pipoqueiro Valdemir Reis se coloca na entrada do Ides. “Cinema sem pipoca não tem graça”, brinca Jonatas. Ele e seus amigos já estão com o saquinho branco na mão e devidamente acomodados. As luzes se apagam. Silêncio. A sessão vai começar.
“EU ME RECONHECI COMO CIDADÃO”
Em maio de 2006, Graziane Leal enfrentava mais um desafio em sua vida. O projeto Jovem Parceiro DIS Baixo Sul, liderado pelo Ides, buscava jovens para integrarem as ações do programa. Gal, como é chamado pelos amigos, participou da seleção com outros 43 jovens. Seu empenho e dedicação em todas as etapas do processo foram recompensados. Em julho, lá estava ele, entre os sete selecionados.
Olhos vivos e uma voz firme, Graziane é hoje um jovem administrador de 23 anos, integrante da área comercial da Cooperativa dos Produtores de Palmito do Baixo Sul da Bahia (Coopalm), que lidera a Cadeia Produtiva do Palmito na região. No entanto, sua história tem laços mais antigos com o Ides e a Fundação Odebrecht. Em 2001, integrou duas ações do Programa Aliança: o Programa de Formação de Adolescentes Voluntários e o Conhecendo o Baixo Sul. No ano seguinte, participou do programa Jovem Empresário, para o desenvolvimento de competências empreendedoras.
“O que aprendemos nessa época não encontrávamos na escola. Discutíamos sobre cidadania, política, meio-ambiente e protagonismo juvenil. Dinâmicas de grupo nos levavam a refletir sobre o nosso papel na sociedade”, conta Graziane. “Passei a expor com mais segurança minhas idéias. Conheci profundamente a realidade das comunidades e me reconheci como cidadão”.
Além de Graziane, outros jovens que participaram de projetos da Aliança fazem parte de iniciativas do Programa DIS Baixo Sul. Em 2002, Ailton Pereira, 24, já era apresentado em uma matéria publicada na Odebrecht Informa 103, como um “adolescente amadurecido, consciente do seu potencial de liderança e comprometido com o desenvolvimento socioeconômico da sua comunidade”.
Na época, Ailton fazia parte do projeto Informática e Cidadania. Participou de um curso de capacitação e, como voluntário, deu aulas de informática para jovens da região. Hoje, formado em Administração, integra a Cadeia Produtiva da Aqüicultura do DIS Baixo Sul, como responsável por Organização Dinâmica da Cooperativa Mista de Pescadores, Marisqueiros e Aqüicultores do Baixo Sul (Coopemar). “Triste daquele que passou a vida sem ter a oportunidade de mostrar seu valor. A parceria entre a Fundação Odebrecht e o Ides trouxe para o Baixo Sul o que faltava: oportunidade”, diz Ailton.
Por acreditar no jovem como foco no processo de desenvolvimento sustentável do Baixo Sul, o Ides foi a primeira organização da sociedade civil a atuar como parceira no Programa Aliança. O olhar voltado para a identificação, integração e formação desses jovens permanece. Segundo o empresário Jarbas de Araújo Filho, Presidente do Conselho do Ides, essa é uma marca do amadurecimento do instituto. “É importante manter esse olhar, fomentando a consciência empresarial dos jovens, por meio da educação”, defende ele.
APRENDENDO A ACREDITAR
Também administradores, Carlos Guimarães, 23, e Aline Santos, 25, integram a equipe da Casa Familiar do Mar. Eles foram beneficiados por programas como o Jovem Empresário e acompanharam de perto grande parte da história do Ides. “Se não tivéssemos nos envolvido nesses projetos, não teríamos conhecido tão bem a nós mesmos e compreendido a realidade à nossa volta. Aprendemos a acreditar que podíamos contribuir para o desenvolvimento local”, comenta Aline.
Carlos percebe a evolução do instituto ao longo dos anos. “Oportunidades estão sendo oferecidas. Adquire-se conhecimento e condições de se manter aqui. Muitas pessoas só abandonam a região por não terem chance de crescer”, ele argumenta. “Os avanços são notórios. O aprendizado levado aos jovens da Casa Familiar do Mar, por exemplo, é algo que eles carregarão para o resto da vida. Isso ninguém tirará deles”.
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