Odebrecht Informa

Edição 162 – Para viver em equilíbrio

No Baixo Sul da Bahia, recuperação de áreas degradadas e nascentes coloca em harmonia os fluxos de vida

1 de outubro de 2012

texto Gabriela Vasconcellos
fotos Fernando Vivas

Dona Dete mostra uma das
nascentes protegidas em sua propriedade:
“Decidi ajudá-las para que não sequem”

Da rotina puxada Valdete do Nascimento não reclama. Aos 47 anos, dona Dete acorda às 5h30 e começa sua jornada diária. Primeiramente, apronta o café e o almoço. Depois, segue para sua plantação, onde, até o fim da tarde, permanece cuidando do cultivo de palmito e da criação de peixes. Ela então volta para casa e, entre os afazeres domésticos, sempre surge uma pausa para assistir a programas de televisão – novelas, de preferência.

Dona Dete, moradora do Assentamento Mata do Sossego, localizado em Igrapiúna, Baixo Sul da Bahia, é movida pelo trabalho. “Nunca vou conseguir parar ou fazer pouco serviço. Minha vida sempre foi essa. Estou garantindo minha sobrevivência”, diz. Prova disso, ela começou a participar do Programa de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA), por meio do qual contribui para a conservação do meio ambiente. “Vou iniciar o reflorestamento na minha propriedade, principalmente em volta de duas nascentes que tenho aqui. Elas podem secar e para que isso não aconteça, decidi ajudá-las”.

O PSA é coordenado pela Organização de Conservação da Terra (OCT), instituição que faz parte do Programa de Desenvolvimento e Crescimento Integrado com Sustentabilidade do Mosaico de Áreas de Proteção Ambiental do Baixo Sul da Bahia (PDCIS), fomentado pela Fundação Odebrecht, poder público, sociedade civil e instituições privadas. A iniciativa possibilita a plantação e a manutenção, por um período de 24 meses, de espécies nativas da Mata Atlântica nas Áreas de Preservação Permanente, sem ônus para os proprietários. Dona Dete escolheu esse caminho e já iniciou o trabalho. “Estou me esforçando para alcançar bons resultados. Todos no assentamento estão apoiando a ação”, diz, satisfeita.

De acordo com Volney Fernandes, mestrando em Conservação da Biodiversidade e Desenvolvimento Sustentável, Líder da Aliança Cooperativa de Serviços Ambientais da OCT, a instituição considera a recuperação das áreas degradadas e de nascentes prioridade para que os fluxos de vida – assim denominados solo, recursos hídricos, flora, fauna, homem e seus negócios – sejam equilibrados. “Buscamos estabelecer nas comunidades da Área de Proteção Ambiental (APA) do Pratigi uma economia harmônica com o meio ambiente, trazendo a promoção de serviços ambientais: água, carbono e biodiversidade”, destaca.

Dona Dete vai além. Ao mesmo tempo em que está se tornando produtora de água, implanta 1 ha de diferentes culturas, como cacau, seringa e frutíferas, método conhecido como Sistema Agroflorestal (SAF). A OCT, em parceria com a Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR), autarquia do Governo da Bahia, oferece apoio técnico e financeiro. O Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio), a Comissão Executiva de Planejamento da Lavoura Cacaueira (Ceplac) e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) também atuam em conjunto, por meio da realização de pesquisas que identificam espécies ideais para cultivo na APA do Pratigi, que agrega cinco municípios baianos: Igrapiúna, Ituberá, Ibirapitanga, Piraí do Norte e Nilo Peçanha.

“O SAF é inserido de forma gratuita, possibilitando um meio de garantir renda à unidade-família. Funciona como uma contrapartida para o produtor rural que destina parte de sua terra para conservar a mata nativa”, explica Volney Fernandes. Segundo ele, o trabalho em andamento na APA resultará em um modelo passível de replicação em outras regiões. “Será possível ganhar escala com a utilização de políticas públicas já existentes, tornando natural o acesso a recursos que estão disponíveis em outros territórios”, explica. Para dona Dete, essa é mais uma oportunidade de colaborar com o meio ambiente. “Recebemos orientação sobre a forma de desenvolver as culturas protegendo o solo”, salienta.

Em meio às atividades no campo, dona Dete ainda consegue tempo para estudar. No ano passado, concluiu o Ensino Médio no Colégio Estadual Casa Jovem, unidade de ensino que integra o PDCIS e também está localizada em Igrapiúna. A agricultora demonstra preocupação em planejar o futuro das florestas que a rodeiam. “O que fazemos hoje é importante para o presente e o futuro. Sei que precisamos preservar para mais tarde não sofrermos as consequências, como ficarmos sem água. O resto deixo por conta do destino.”

Preocupação de todos
De acordo com Volney Fernandes, a OCT concentra suas ações em atividades que contribuem para o reflorestamento da APA do Pratigi, fomentando a implantação dos Corredores Ecológicos, o que permitirá a criação de conexões entre fragmentos de Mata Atlântica localizados no Corredor Central da Mata Atlântica, uma área com extensão que vai da Bahia ao Espírito Santo. “Temos um desmatamento anual de cerca de 700 ha na região. Precisamos reverter esse cenário”, pontua.

É o que espera Jeovan Nascimento, 41 anos. Assim como dona Dete, o produtor rural se preocupa com o meio ambiente. “Meus filhos e netos precisam conhecer o que é uma floresta”, assegura o morador da comunidade Juliana, localizada no município de Piraí do Norte. Jeovan também está recuperando uma nascente. “Meu pai encontrou a região devastada e fez um pasto, mas o gado não dá lucro aqui, porque chove muito. Quando apareceu a oportunidade da OCT, ele liberou áreas para a gente trabalhar”, conta.

Na propriedade da família de Jeovan, além da recuperação da nascente, estão sendo plantados um SAF e – também como estratégia da OCT para reduzir o desmatamento – a silvicultura, que incentiva o cultivo de eucalipto para atender à demanda de madeira da região. “Com essas diferentes culturas, quero ampliar a renda e ter um negócio meu”, destaca ele, que atualmente trabalha como diarista na fazenda de terceiros.

O sentimento de Bruno Matta, engenheiro ambiental e Líder de Conservação Ambiental da OCT, ao ver que os agricultores estão percebendo que existe outro modelo de uso do solo, que não seja degradador, é de satisfação. “Estamos trabalhando para recuperar nascentes, implantar sistemas agroflorestais e incentivar a produção de madeira para atender à demanda da região e, assim, frear o desmatamento. Isso nos levará, certamente, a construir uma economia harmônica com o meio ambiente”, argumenta.

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