Edição 164 – Em águas harmoniosas e produtivas
No Baixo Sul da Bahia, o entendimento de que todos podem contribuir para o equilíbrio do meio em que vivem
1 de janeiro de 2013
No Baixo Sul da Bahia, o entendimento de que todos podem contribuir para o equilíbrio do meio em que vivem
1 de janeiro de 2013
texto Gabriela Vasconcellos
fotos Almir Bindilatti
Todos os dias ao acordar e abrir a janela, Adenilton do Nascimento, 31 anos, vê o Lago Antônio Rocha. Fonte de trabalho para o produtor rural, que cultiva peixes em suas águas, o manancial tem o nome de seu pai, morador da região há mais de 30 anos, e é um ponto de referência na comunidade Juliana, localizada no município de Piraí do Norte, no Baixo Sul da Bahia.
Mais conhecido como Deninho, Adenilton é associado e tesoureiro da Cooperativa dos Aquicultores de Águas Continentais (Coopecon). Fruto de mobilização social de piscicultores e famílias da zona rural, a Coopecon foi fundada em 2010. Deninho foi um dos primeiros a integrar a cooperativa. “O retorno financeiro vem crescendo a cada dia. Hoje ganho cerca de R$ 1 mil e acredito que vai aumentar ainda mais, pois é uma atividade que vem conquistando a confiança de todos.”
É, portanto, das águas de Antônio Rocha que o aquicultor tira o sustento de sua esposa e três filhos, mas o trabalho não termina ao alimentar as tilápias. Deninho acredita que é sua e de todos da comunidade a responsabilidade por conservar o lago. Ele mora perto da nascente e, em parceria com a Organização de Conservação da Terra (OCT), implantou 1 hectare com diferentes culturas, como seringa e frutíferas, método conhecido como Sistema Agroflorestal (SAF). “O SAF é inserido de forma gratuita, possibilitando um meio de garantir renda à unidade-família. Funciona como uma contrapartida para o produtor rural, que destina parte de sua terra para conservar a mata nativa”, explica Volney Fernandes, Líder da Aliança Cooperativa de Serviços Ambientais vinculada à OCT.
“Observamos que, ao desmatar, a água estava diminuindo. Com o reflorestamento, protegemos os recursos para as futuras gerações. Nunca pensei que um dia iria fazer isso. Eu era um agressor da natureza e hoje sou um defensor”, afirma Deninho. O produtor implantou, também com apoio da OCT, 1 hectare de eucalipto. “Esse cultivo vai nos trazer um benefício grande, porque, em vez de derrubar a mata, vamos ter a nossa própria madeira”, garante. “Aqui as pessoas não tinham essa consciência”, completa.
Leandra Santos, esposa de Deninho, confia no marido. “Meus filhos pensam em seguir os passos do pai”, comemora a agricultora, que revela seu sonho: construir uma nova casa. Deninho se preocupa com o futuro das crianças. “Não tive a oportunidade de estudar, mas quero dar a eles uma boa educação, ensinando a importância de viver em comunidade e de preservar a natureza”, diz. Sua filha mais velha, Yasmin, está cursando o 5º ano no Colégio Estadual Casa Jovem (CECJ), localizado no município de Igrapiúna (BA), e pensa em ser técnica aquícola quando crescer. “Incentivo Yasmin todos os dias”, assegura Deninho.
Fortalecimento dos quatro capitais
Coopecon, OCT e o CECJ são instituições ligadas ao Programa de Desenvolvimento e Crescimento Integrado com Sustentabilidade do Mosaico de Áreas de Proteção Ambiental do Baixo Sul da Bahia (PDCIS). Fomentado pela Fundação Odebrecht, em parceria com o poder público, sociedade civil e instituições privadas, o PDCIS promove simultaneamente o fortalecimento de quatro capitais: produtivo, ao implantar alianças cooperativas estratégicas para geração de trabalho e renda; humano, representado por centros educacionais que contribuem para a formação de jovens empresários; social, incentivando a construção de uma sociedade mais justa e igualitária; e ambiental, ao promover atividades que priorizam a recuperação e conservação dos recursos naturais.
O programa carrega, em sua essência, a premissa de que o desenvolvimento representa o processo evolutivo dos seres humanos e que todos podem contribuir para o equilíbrio do meio em que vivem e, assim, possibilitar o progresso. É o que também busca Deninho. Com apoio do Instituto Direito e Cidadania (IDC), conquistou um direito básico para sua família e comunidade: documentação civil. “O IDC realizou uma ação aqui, e aproveitamos para emitir as carteiras de identidade de meus filhos. Muitos vizinhos não tinham nem o registro. Sabemos que uma pessoa sem documento não é um cidadão”, argumenta.
Referência em sua comunidade, o produtor assumiu também o compromisso de liderar a Associação dos Pequenos Produtores Rurais da Região do Juliana. Com apoio da Associação Guardiã da Área de Proteção Ambiental do Pratigi (Agir), que, assim como o IDC, também integra o PDCIS, a associação tem mobilizado as 40 famílias que compõem a região do Antônio Rocha. “Quero reunir as pessoas para discutir o melhor”, salienta. Para ele, o importante é fortalecer o sentimento de pertencimento entre os moradores e, assim, alcançar o oitavo objetivo do milênio: todos trabalhando pelo desenvolvimento. “Com a nossa união, conseguiremos alcançar resultados como a ampliação de nossa renda e a conservação dos recursos naturais”, acredita.
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