Educação em foco
Confira entrevista com a Coordenadora Nacional do PEA-Unesco no Brasil, Myriam Tricate, sobre o contexto da educação brasileira e os temas centrais discutidos em 2015 em torno das crianças e adolescentes
22 de julho de 2015
Confira entrevista com a Coordenadora Nacional do PEA-Unesco no Brasil, Myriam Tricate, sobre o contexto da educação brasileira e os temas centrais discutidos em 2015 em torno das crianças e adolescentes
22 de julho de 2015
O Programa de Escolas Associadas (PEA) foi criado em 1953 pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) com o objetivo de formar uma rede internacional de escolas que trabalhem pela ideia da cultura da paz. Presente em mais de 170 países, o Programa consiste, basicamente, no estímulo a projetos ligados a um tema central proposto a cada ano pela Unesco.
Em 2015, a o Ano Internacional da Luz tem o objetivo principal de destacar a importância da luz e das tecnologias ópticas para a vida, o futuro e o desenvolvimento da sociedade. Além disso, o ano marca também a comemoração dos 25 anos da criação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), um marco legal e regulatório dos direitos humanos de crianças e adolescentes.
Coordenadora Nacional do PEA-Unesco no Brasil desde 2007, a educadora Myriam Tricate, que, em março deste ano esteve no Baixo Sul da Bahia e conheceu as Casas Familiares Rurais apoiadas pela Fundação Odebrecht, respondeu algumas perguntas sobre o contexto da educação brasileira e os temas centrais discutidos em 2015 em torno das crianças e adolescentes.
1. O PEA é considerado o braço da Unesco na vertente da educação e vem se fortalecendo muito no Brasil. Quais são as principais contribuições do PEA para o sistema de ensino do País?
Myriam Tricate: Esta é uma pergunta ampla, que comporta muitas respostas diferentes. Se puder escolher uma perspectiva mais ampla, diria que a contribuição das escolas do PEA é a de serem embaixadoras dos valores universais da Unesco. Ao trazer para o coração de seus projetos pedagógicos o trabalho no campo dos valores, da sustentabilidade, da interculturalidade, da cultura da paz nossas escolas apontam um caminho concreto para a construção de um futuro melhor – e real!
2. Ao proclamar um Ano Internacional, a Unesco reconhece a importância da conscientização mundial sobre o tema escolhido. Quais são os critérios que influenciam essa escolha e qual o principal objetivo que se quer alcançar com o Ano Internacional da Luz, celebrado em 2015?
MT: A escolha dos anos internacionais são tomadas coletivamente pelos países nas assembleias da Organização das Nações Unidas e encampadas pela UNESCO e por outras organizações que fazem parte do sistema da ONU. Elas servem realmente para definir uma agenda de reflexão sobre temas centrais para o planeta. No caso da luz, é preciso notar que o nome completo é Ano Internacional da Luz e das Tecnologias Baseadas na Luz. Estamos falando, portanto, de um amplo espectro que inclui o conhecimento científico, a busca por fontes de energia alternativa, limpas e renováveis, entre outros aspectos. Esse é um tema central para o mundo, às voltas com o aquecimento global e outros problemas decorrentes da queima de combustíveis fósseis. Há ainda muitas outras abordagens possíveis, como mostram os trabalhos que vêm sendo realizados pelas escolas do PEA que se dedicaram ao tema. O laser, por exemplo, revolucionou a indústria. Há muita ciência – e há também cidadania – no trabalho sobre a luz e suas tecnologias.
3. De 2007, quando assumiu a coordenação do PEA, até hoje, quais as principais mudanças percebidas pela Sra. na consciência dos jovens e educadores das escolas associadas sobre temas como sustentabilidade e respeito à diversidade?
MT: O Brasil é um país imenso, e por mais que eu viaje e visite escolas, seria impossível saber o que se passa em cada uma delas. Por isso, posso lhe responder me baseando nos relatos e em uma pesquisa que fizemos sobre o tema, há 2 anos. A resposta é: há um grande movimento de formação de uma cultura de educação em valores. As escolas reportam o quando melhoraram, o quanto cresceram, o quanto aprofundaram o trabalho formativo – e também aprimoraram a qualidade acadêmica de seu trabalho. Tudo isso porque nos organizamos como uma rede. Em rede, todos crescemos juntos. A pesquisa Identidade em PEA mostrou exatamente isso: as escolas que formam esta organização caracterizaram-se pela ênfase absoluta em uma educação mais humana, com princípios universais, dentro de uma ética de cidadania global.
4. Em julho, o Brasil comemora 25 anos da criação do Estatuto da Criança e do Adolescente, considerado um grande salto em busca da defesa dos direitos humanos. Quais foram as maiores conquistas com o ECA?
MT: Para falarmos do ECA, precisamos lembrar o que era o Brasil de 25 anos atrás. Muita gente esqueceu, mas vivíamos um país com assassinato de crianças, como no crime da Candelária, sem controle sobre o trabalho infantil e dentro de uma realidade em que a infância não tinha direitos assegurados. O Brasil mudou muito desde então. Os 25 anos do ECA são uma oportunidade para pensarmos em que país queremos que nossas crianças e adolescentes vivam e cresçam, no Brasil de hoje e de amanhã.
5. Casas Familiares Rurais (CFR’s) são associações de pais comunitárias, que ofertam um ensino gratuito voltado para a educação com foco na realidade do campo e na formação de futuros empresários rurais. Como o PEA enxerga essas instituições de ensino e como elas podem contribuir para o desenvolvimento do meio em que estão inseridas?
MT: A educação no campo é uma modalidade fundamental de atendimento neste país que ainda tem milhões de pessoas no campo, muitas vezes sem condições de receber uma educação de qualidade. O que vi nas Casas Familiares me deixou maravilhada, por todos os aspectos do trabalho, inclusive o âmbito residencial e formativo. Mas, muito mais importante do que pude conhecer por meio do que li, é o testemunho dos alunos e alunas com quem conversei. Quem os ouve tem certeza de que estão vivendo uma proposta exemplar de educação, que deve ser modelo para todo o país.
6. Nas Casas Familiares Rurais apoiadas pela Fundação Odebrecht, no Baixo Sul da Bahia, os estudantes recebem um ensino contextualizado, passando uma semana em período integral na instituição de ensino, com aulas na sala e no campo, e duas semanas na propriedade da família, aplicando os novos conhecimentos. Qual a sua opinião sobre o modelo adotado pelas CFR’s, com a metodologia da Pedagogia da Alternância?
MT: Esse é um dos aspectos mais interessantes que vi. A Pedagogia da Alternância não afasta os jovens de suas comunidades de origem. Ao contrário, promove uma educação que transforma não apenas o aluno, mas a sua família, os vizinhos, os amigos, sua comunidade. Dessa forma, para cada jovem formado, há dezenas de pessoas que ganham a oportunidade de um futuro melhor. Há um sentido de responsabilidade social, de valorização da identidade cultural e de compreensão do valor do conhecimento que torna esse projeto realmente exemplar.
7. Gostaríamos que a Sra. contasse como foi a sua experiência nas Casas Familiares Rurais do Baixo Sul da Bahia e que deixasse a sua mensagem para os jovens estudantes.
MT: Foi, como eu disse, uma experiência emocionante. Evidentemente, como educadora, eu tinha um interesse técnico. Aprendi muito nesse sentido. Mas o que nunca deixa de me surpreender é o valor da educação para os seres humanos. Conversei muito com os jovens e, mesmo com olhos muito experimentados, que já viram muita coisa, percebi que estava diante de algo que nunca tinha visto antes. Eram jovens que entendiam perfeitamente a importância do que faziam lá. Sabiam porque estavam naquela escola, sabiam o que iriam fazer com tudo o que viviam e aprendiam. Sabiam que eram protagonistas de uma transformação que certamente os levará para um futuro melhor. A mensagem que eu posso deixar? Só algo que eles já sabem: apenas a educação é capaz de mostrar que nenhum sonho é impossível. Acreditem, sonhem, façam. Tudo está nas mãos de vocês.
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