Escolas rurais mobilizadas pela dignidade menstrual
Casas Familiares parceiras da Fundação estão promovendo debates e distribuindo kits de higiene para combater a pobreza menstrual
23 de maio de 2022
Casas Familiares parceiras da Fundação estão promovendo debates e distribuindo kits de higiene para combater a pobreza menstrual
23 de maio de 2022
Quanto custa menstruar todo mês? Para muitas brasileiras, a resposta é: muito. Segundo pesquisa da SempreLivre, Instituto Kyra e Mosaiclab (2021), 21% das mulheres e meninas das classes C e D no Brasil têm dificuldade para comprar produtos para menstruação todos os meses. É para ajudar a mudar esta realidade que as Casas Familiares do Baixo Sul da Bahia têm se unido à mobilização nacional pela dignidade menstrual – que é o acesso a conhecimento, produtos e condições de higiene adequados para conviver com o ciclo feminino.
Parceiras da Fundação Norberto Odebrecht na execução de seu Programa Social, o PDCIS, estas escolas estão promovendo debates e palestras de conscientização sobre a dignidade menstrual e saúde feminina. Além disso, estão distribuindo kits com produtos de higiene para suas estudantes e em comunidades rurais da região. A expectativa é que, até o final de 2022, mais de 1100 kits como estes tenham sido doados.
Quanto custa menstruar?
A questão sobre o custo de um ciclo menstrual para muitas famílias não é apenas retórica. Ela também é o ponto de partida para as conversas promovidas pela Casa Familiar Rural de Igrapiúna (CFR-I), uma das escolas parceiras do PDCIS, com os jovens em formação. A professora Tailã Mendes, que também é assessora pedagógica na unidade, está coordenando a iniciativa de conscientização com os alunos. “Temos os momentos de palestra na sala, com rodas de conversa com todos os jovens, meninos e meninas. Afinal, falar de dignidade na menstruação também envolve os homens, eles precisam saber sobre esta realidade”, opina ela.
Mas a educação sobre saúde feminina também está acontecendo em momentos privados apenas com as estudantes. Afinal, para algumas pessoas, o tema pode carregar preconceitos e constrangimentos, como aconteceu com a própria Tailã em sua juventude: “conversar sobre esse assunto era algo muito sigiloso na minha família, e não me recordo de haver essa discussão na escola”, relembra.
Felizmente, iniciativas como as das Casas Familiares têm ajudado a diminuir estes tabus. É o que pensa Annelise da Conceição, de 14 anos, que está no primeiro ano de formação na CFR-I e participou das conversas. “Foi bastante produtivo, porque a gente pôde aprender muitas coisas e conhecer as experiências de outras meninas”, diz ela. “[É importante a] conscientização da escola pois pode ajudar as pessoas, mas nós, jovens, também podemos e devemos falar sobre o assunto. É muito injusto que alguém fique sem aula, por exemplo, por falta de assistência em relação a sua menstruação”, opina ela.
Condições de higiene
Segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), na pesquisa Pobreza Menstrual no Brasil, 4 milhões de meninas no Brasil frequentam escolas que não têm pelo menos um dos requisitos mínimos de higiene para o ciclo menstrual, como pias e sabão, papel higiênico ou banheiros. Entre elas, 200 mil jovens estudam em colégios que não contam com nenhum desses equipamentos.
As escolas rurais parceiras da Fundação oferecem estes requisitos a todas as suas alunas – mas, como observa a estudante Lívia Boaventura, de 16 anos, esta não é a realidade para todas as meninas e mulheres que vivem no campo. “Já convivi com colegas que passaram por isso, e não tinham dinheiro para comprar desodorante, absorvente, itens de higiene”, conta ela, que estuda na Casa Familiar Agroflorestal (CFAF), sobre sua experiência em outras unidades de ensino. “Às vezes elas até sofriam bullying por isso”, relata ela.
Na CFAF, os estudantes também estão participando de palestras sobre o tema da dignidade menstrual. Com o apoio de uma psicóloga, os meninos e meninas aprenderam mais sobre saúde feminina, ciclo menstrual e condições de higiene, além de se sentirem à vontade para tirar dúvidas. As estudantes receberam ainda os kits com itens básicos, como sabonetes íntimos e absorventes, que serão entregues todo mês a cada período de alternância (período no qual os jovens formados nas Casas Familiares ficam integralmente nas escolas por uma semana).
Segundo Rita Cardoso, diretora da escola, a promoção da dignidade menstrual assume grande importância para o processo de formação cívica e emocional dos jovens. “Já realizamos as primeiras conversas, falando sobre o cuidado com o corpo e com a mente e discutindo alguns dos preconceitos que algumas pessoas têm sobre este assunto”, conta ela. “É nossa primeira vez realizando uma iniciativa sobre este tema, e agora a Casa continuará a ter este cuidado com um assunto tão relevante, como a saúde feminina”, diz.
Ações multiplicadoras
E a busca por combater a pobreza menstrual não está restrito aos muros das Casas Familiares do Baixo Sul da Bahia. Não somente pela possibilidade de os jovens levarem os conhecimentos sobre o tema para suas próprias famílias, como é tradicional no processo de ensino destas instituições; mas pela promoção de palestras e capacitações sobre saúde feminina em comunidades rurais da região. É o que está fazendo, por exemplo, a Casa Familiar Rural de Presidente Tancredo Neves (CFR-PTN).
Além de realizar conversas com seus estudantes, a escola já promoveu duas ações multiplicadoras de conhecimento sobre dignidade menstrual: uma virtual e a última com a participação presencial de 39 adolescentes do Colégio Municipal Cecília Machado de Souza, na cidade. Os momentos são liderados por jovens protagonistas da Casa Familiar e têm o acompanhamento de uma profissional de saúde e da monitora Déborah Santana, que trabalha na CFR-PTN. Na visão da educadora, as conversas foram uma experiência inédita para os meninos e meninas que participaram. “Para muitos, [conversar sobre este tema] foi algo novo, impactante. Há um constrangimento a ser quebrado”, diz Déborah. “Por isso, sabemos que temos muito a debater, ainda, sobre dignidade menstrual”, opina.
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