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Notícias da Índia

Confira a entrevista que fizemos com o engenheiro agrônomo José Eduardo Mamédio, integrante da OCT, que apresentou a história do agricultor Lourivaldo Grima em um congresso mundial em Nova Deli.

8 de fevereiro de 2018

Há cinco anos, o agricultor familiar Lourivaldo Grima, da comunidade de Mata do Sossego, no município de Igrapiúna, no Baixo Sul da Bahia, implantou um Sistema Agroflorestal (SAF) na sua propriedade com o apoio da Organização de Conservação da Terra (OCT). Utilizando apenas manejos orgânicos, ele conseguiu recuperar uma área alterada e melhorar a sua produtividade, se tornando uma inspiração para pequenos agricultores vizinhos.

Entre os dias 9 e 11 de novembro de 2017, essa história chegou a Nova Deli, capital da índia, a 13.303 km de distância de Igrapiúna. Lá, aconteceu o 19º Congresso Orgânico Mundial (Organic World Congress – OWC), o maior encontro do setor no mundo, que ocorre a cada três anos. O engenheiro agrônomo José Eduardo Mamédio, Coordenador de Projetos da OCT e agricultor membro da Rede de Agroecologia Povos da Mata, foi ao evento apresentar a experiência de Lourivaldo para produtores, pesquisadores e cientistas de todo o mundo.

Na OCT desde 2012, Mamédio coordena projetos de implantação de SAF em áreas de agricultores familiares da área de Proteção Ambiental (APA) do Pratigi. Em entrevista à Fundação Odebrecht, ele falou sobre o OWC, a agricultura na índia e a experiência de conhecer um país e cultura tão diverso. Confira!

O engenheiro agrônomo José Eduardo Mamédio, Coordenador de Projetos da OCT, contou a história do agricultor familiar Lourivaldo Grima, do Baixo Sul da Bahia, no 19º Congresso Orgânico Mundial

Na sua percepção, o que há de único na agricultura na índia?
O país tem um histórico com agricultura há mais de dez mil anos. Porém, o movimento da agricultura orgânica recuperou sua força em meados dos anos 80, após 20 anos da introdução da Revolução Verde*. Hoje, mais de meio milhão de agricultores orgânicos se voltaram para métodos agrícolas que transcendem técnicas modernas e tradicionais. O OWC se concentrou em mostrar o trabalho inovador dos agricultores orgânicos da ásia, áfrica e América do Sul para o resto do mundo, com ênfase no pioneiro: a índia.

Como funcionou o processo de inscrição no Congresso?
A Organização de Conservação da Terra, em parceria com a Rede Povos da Mata, enviou para o OWC a experiência do agricultor Lourivaldo com a implantação de Sistema Agroflorestal (SAF) como estratégia de recuperação de área alterada. O SAF de Lourivaldo foi implantado em 2012, com apoio da OCT, na comunidade Mata do Sossego, município de Igrapiúna, na Bahia. O trabalho foi aceito pela organização do Congresso, que concordou em me deixar representar Lourivaldo na apresentação da experiência.

Conte-nos um pouco sobre a sua apresentação.
O tema apresentado fez parte do painel Saúde do Solo, que chama a atenção para os cuidados que devemos ter com este importante recurso natural. Os SAFs são uma boa alternativa para recuperação de áreas alteradas, que geralmente possuem solos desgastados, com pouca matéria orgânica e pobres em fertilidade. Esta tecnologia, além de restaurar os serviços ambientais da área, promove renda e qualidade de vida para a família que a maneja.

Como vivem os agricultores na índia e quais são, para você, as maiores diferenças em relação à atividade no Brasil?
Conversando com pequenos agricultores locais, descobri que a maioria vive em pequenas propriedades, com menos de 1 hectare (ha), onde são utilizadas técnicas tradicionais de cultivo, muito trabalho braçal e manejo com base na Agricultura Biodinâmica. No país, os principais produtos agrícolas são o arroz, a cana-de-açúcar, o amendoim, o milho, a batata e o chá. Acredito que, no Brasil, precisamos avançar no uso de mais técnicas de manejo biológico de cultivos, que dependam menos de agrotóxicos e insumos químicos.

Manejo agrícola do solo em uma propriedade na índia

Nessa viagem, você também participou da Assembleia Geral da Rede Intercontinental de Organizações de Agricultores Orgânicos (INOFO). Como foi esse evento?
A INOFO reúne agricultores orgânicos de mais de 30 países, que representam cerca de 2,5 milhões de famílias de diversos continentes. A Assembleia Geral da INOFO ocorreu em Nova Deli, em 8 de novembro, um dia antes do início do OWC. Participei do evento como delegado, representando a Rede Povos da Mata, o que me reservou o direito a voto nas discussões. Foram discutidos problemas comuns em todos os continentes, como a luta contra a contaminação por transgênicos e dificuldades na produção de sementes orgânicas.

Em relação à cultura, o que mais chamou a sua atenção?
Durante a viagem, conheci o Taj Mahal. Lá havia milhares de turistas, a maioria indianos que vêm de várias partes do país. Muita gente, diferentes idiomas, falando rápido, com vestimentas das mais variadas possíveis e um colorido impressionante. Foi lá que presenciei, pela primeira vez, uma verdadeira fila indiana.  A comida é sempre bem temperada, forte, picante, cheia de especiarias tipicamente indianas. No Congresso, toda a alimentação foi orgânica, à base de vegetais. Fora do Congresso, encontrei frango com diferentes formas de preparo, mas carne bovina, de fato, não é muito comum por lá.

Como foi a experiência de conhecer um país tão diferente do Brasil?
A índia possui uma riqueza cultural indiscutível. Berço da civilização oriental, este país agrupa diferentes povos, religiões, múltiplas línguas e consegue manter seus costumes e tradições milenares, apesar da influência moderna. Os indianos são hospitaleiros, acolhem os estrangeiros com muita alegria e simpatia. Com os brasileiros achei ainda mais especial. Perguntam de imediato sobre o nosso futebol! Concluindo, foi uma viagem muito rica em aprendizados. Apesar das diferenças, temos também muita coisa em comum, em especial a agricultura orgânica. Ainda temos muito a aprender e compartilhar, mas uma coisa é certa: uma agricultura sustentável depende da valorização da agricultura familiar e de políticas públicas voltadas para a Agroecologia.

A OCT é apoiada pela Fundação Odebrecht através do Programa de Desenvolvimento e Crescimento Integrado com Sustentabilidade (PDCIS).

*A Revolução Verde, termo criado em 1966 em uma conferência em Washington, surgiu com o propósito de aumentar a produção agrícola através de desenvolvimento de pesquisas em sementes, fertilização e utilização de maquinário.

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