Produção ambientalmente sustentável
É preciso mudar a percepção da relação entre desenvolvimento econômico e natureza, acabando com o mito da incompatibilidade
28 de novembro de 2006
É preciso mudar a percepção da relação entre desenvolvimento econômico e natureza, acabando com o mito da incompatibilidade
28 de novembro de 2006
NORBERTO ODEBRECHT
———————————————————————————————–
É preciso mudar a percepção da relação entre desenvolvimento
econômico e natureza, acabando com o mito da incompatibilidade
———————————————————————————————–
A QUALIDADE e a segurança de vida de milhões de pessoas no planeta caíram muito nas últimas décadas, em conseqüência de poluição, degradação ambiental, alterações climáticas, escassez de água e destruição de fontes naturais.
Essas ameaças exigem soluções e uma decisão inadiável, com mudanças reais na forma de abordar a questão da sustentabilidade. As políticas de investimento público devem conciliar desenvolvimento econômico e proteção ambiental, promovendo sua sustentabilidade imediata. Os modos de produção, de governança e de consumo devem ser alterados.
Atualmente, muitas comunidades e países já pagam um alto preço pelo atraso na determinação de prioridades de desenvolvimento sustentável.
É preciso mudar a percepção da relação entre desenvolvimento econômico e natureza, acabando com o mito da sua incompatibilidade. Os principais prejudicados pelo mau uso dos recursos naturais são normalmente os mais pobres.
O modelo que pode reverter essa situação está pautado em um sistema de cadeias produtivas estabelecidas a partir de unidades-família, organizadas em cooperativas. Ao gerar oportunidades de trabalho produtivo, as cadeias promovem o aumento e a distribuição digna de renda para as comunidades e municípios. Isso ocorre basicamente porque elas integram, de forma justa e adequada, os setores primário, secundário e terciário.
Com elas, o pequeno produtor familiar (setor primário), organizado em cooperativas, passa a ter acesso à tecnologia, ampliando o volume e a qualidade de sua produção. Sua produção recebe beneficiamento (setor secundário) e seus produtos ganham valor agregado. E, por último, fechando o ciclo, um parceiro comercial (setor terciário) o remunera com justiça, colocando os seus produtos nas mãos de consumidores esclarecidos, que estejam dispostos a pagar por eles. O que torna esse ciclo virtuoso é a eliminação dos intermediários nocivos.
Entretanto, não basta criar e implantar uma cadeia produtiva. É fundamental que os cooperados em torno dela participem de todo o processo de formação da cooperativa, tornando-se os seus legítimos “donos”. E a administrem, sem paternalismo e com profissionalismo, contando com suas próprias forças.
Uma cadeia produtiva bem-sucedida transforma trabalho em planejamento, músculos em cérebros e suor em mais conhecimento. E há vários tipos de capital a administrar nesse caminho.
Há o capital humano, que integra os valores, atitudes, conhecimentos e habilidades a fim de permitir que as pessoas de uma comunidade desenvolvam seu potencial, aproveitem as oportunidades que lhe são colocadas e se insiram produtivamente no mundo do trabalho.
O capital social, ou a capacidade de uma comunidade de formular objetivos comuns de longo prazo, de gerar coesão social em torno desses objetivos e de manter um propósito firme ao longo do tempo.
E, nunca menos importante, o capital ambiental, que compreende os recursos advindos do meio ambiente que resultam do uso sustentável pelos seres humanos. Esses recursos devem promover uma interação entre o legado recebido da natureza pelas gerações presentes e aquele que precisa ser oferecido às gerações futuras.
Nesse contexto, algumas ações devem estar concretamente inseridas em um programa de grande juízo socioambiental, replicável, que pretenda tirar o povo da informalidade, erradicar a pobreza com distribuição justa de renda, reduzir as desigualdades sociais e estabelecer uma classe média rural.
Um bom exemplo de programa desse tipo está em andamento no Baixo Sul da Bahia e pretende, além de elevar a produtividade com trabalho digno, promover a cidadania dos excluídos, obter sustentabilidade, implantar um modelo de sociedade de confiança, com transparência e responsabilidade, elevar os índices de educação, saúde e produtividade, fixar o ser humano na área rural, agregar as famílias e praticar uma agricultura ambientalmente correta.
É o Programa de Desenvolvimento Integrado e Sustentável do Baixo Sul da Bahia (DIS Baixo Sul), que existe há três anos e acaba de ganhar reconhecimento internacional, com o apoio do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento).
O Projeto de Fomento da Produção Agrícola Integrada e Ambientalmente Sustentável é o resultado da recentíssima parceria e traz uma importante chancela para o impacto positivo da experiência, para a consistência dos resultados e para o potencial de replicação dessas idéias e ações em todo o país.
NORBERTO ODEBRECHT , 86, empresário, é presidente do Conselho
de Curadores da Fundação Odebrecht, que apóia o Dis Baixo Sul.
Fonte: Artigo publicado no jornal Folha de São Paulo, 27 de novembro de 2006.
Deseja ser parceiro dos
nossos projetos, realizar uma
doação ou contratar nossa consultoria técnica?
Mande uma mensagem
agora mesmo!