Um exemplo de carinho e cuidado
Aluna da Casa Familiar Agroflorestal (Cfaf), Naiara de Jesus compartilha com os pais, deficientes auditivos, o que aprende na escola
10 de setembro de 2019
Aluna da Casa Familiar Agroflorestal (Cfaf), Naiara de Jesus compartilha com os pais, deficientes auditivos, o que aprende na escola
10 de setembro de 2019
De sorriso fácil, Naiara de Jesus entrou na sala de aula, sentou-se na carteira e, disposta a compartilhar a história da sua família, avisou sem delongas: “meus pais são deficientes auditivos”. “Mainha e painho”, como a jovem carinhosamente os chama, olhavam para a filha do meio com um misto de admiração e orgulho enquanto ela, muito articulada, contava como vem se aproximando cada vez mais dos pais à medida em que divide com eles o que aprende na instituição onde estuda.
Naiara tem 15 anos e é aluna do 1º ano da Casa Familiar Agroflorestal (Cfaf), escola rural que faz parte do Programa de Desenvolvimento e Crescimento Integrado com Sustentabilidade (PDCIS), iniciativa da Fundação Odebrecht. Moradora da comunidade de Limeira I, em Igrapiúna (BA), ela está se preparando para ser uma técnica em Florestas. Na Cfaf, aprende na prática novos manejos agrícolas e tratos culturais, por exemplo, além de ter acesso à toda a base comum do Ensino Médio.
Com três irmãos, é a primeira da família a ingressar na Casa Familiar. Seu objetivo, Naiara diz com franqueza: “quero ter condições de ajudar meus pais. Meu desejo é permanecer no campo e trabalhar com agricultura, pois aprendi na Cfaf a valorizar a zona rural. É da terra que tiramos os nossos alimentos”, pontua.
A admiração que sente por sua família perpassa a fala da estudante ao passo em que ela explica suas trajetórias. Salvador, seu pai, não nascera sem escutar. A deficiência foi adquirida após um acidente em um rio. Com o passar dos anos, ele foi perdendo a fala também. Já sua mãe, Joselita, nasceu como portadora de necessidades especiais. Dos quatro filhos de Salvador e Joselita, todos falam e escutam. Naiara, no entanto, comenta que teve dificuldades no seu desenvolvimento. “Comecei a falar com seis anos, quando entrei na escola. Minha avó também me ajudou bastante nesse processo. Eu ouvia todo mundo falar ao meu redor e pegava as palavras mais fáceis para repetir”, diz.
O que pode parecer uma barreira para muitos, para Naiara não é. A jovem conta que, todos os dias, senta-se com os pais à mesa para colocar o “papo em dia”. “Nos comunicamos por gestos e, agora, estamos estudando libras juntos. A escola me incentiva nisso. Antes de eu ingressar na Cfaf, nossa família não se comunicava muito, não parávamos para conversar. Estamos aprendendo a fazer isso. Os professores sempre aconselham que eu compartilhe com meus pais tudo o que aprendo aqui”.
Para Adriana Santana, educadora que acompanha a jovem na Cfaf, Naiara tem chamado atenção na escola rural pela sua força de vontade em transformar a realidade da família e a sua própria. “Vimos uma mudança, não apenas comportamental, mas também no ensino. Naiara apresenta um dos melhores desempenhos em matemática e se coloca à disposição para apoiar e sanar as dificuldades dos seus colegas”, conta.
Herança no campo
A Casa Familiar viabilizou que família de Naiara se reconectasse com o campo. “Tínhamos onde plantar, mas não plantávamos”. Atualmente, ela já está com uma produção avançada de hortaliças, principalmente com os cultivos de coentrinho, alface e cebolinha.
Segundo a jovem, sua relação com a comunidade também mudou. “Melhorou muito. Tento ajudar os outros agricultores da região e repartir os conhecimentos que adquiro na Cfaf”. Ela conta que, ainda, tem um sonho: deseja ensinar matemática, sua matéria preferida, para outras pessoas da zona rural, do mesmo modo como seu pai, que é bom de cálculos, a ensinou. “Quem não tem oportunidade também tem direito de aprender”, salienta.
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